Assassinato do esporte em BH


Por Ivan Drummond

Belo Horizonte tinha, até o início dos anos 90, uma das leis esportivas mais avançadas do país. Um clube que competisse em três ou mais modalidades esportivas olímpicas – o futebol de salão, que mais tarde passou a se chamar futsal, estava incluído – tinha a isenção de IPTU. Era uma forma de Belo Horizonte, o município, através de lei municipal, estimular a prática esportiva. Como consequência, havia competições de domingo a domingo, no futsal, basquete, vôlei, handebol, natação, judô, atletismo, tênis. Mas a partir do momento que Eduardo Azeredo assumiu a Prefeitura, a lei foi mudada e criado o IPTU para os clubes, que assim, aos poucos, deixaram, ou melhor, se viram obrigados a parar de investir em modalidades esportivas pouco rentáveis para poder pagar o novo imposto.

É impressionante a diferença. Até os anos 90, Belo Horizonte tinha 17 equipes de futsal, nove de basquete masculino, seis no vôlei masculino, seis no feminino, quatro de handebol, seis clubes de judô e seis clubes que competiam na natação.

A consequência da imposição do imposto aos clubes é que muitos acabaram ou encolheram radicalmente, inclusive na estrutura física. Para ficar em dois exemplos, o Barroca, para conseguir pagar o imposto, foi obrigado a vender parte de suas instalações para uma construtora. Um dos mais tradicionais no basquete, o XV Veranistas, não existe mais.

Fazendo as contas, foram alijados do esporte nada menos que 2 mil meninos e meninas, em grande parte das classes populares. No futsal são sete categorias, com um mínimo de 15 atletas por equipe. No basquete, também sete categorias, com 15 atletas em cada uma delas. No vôlei cinco, no handebol cinco. No judô, oito, pois aí entra também a idade, e na natação, seis. O total supera 2 mil atletas.

As perguntas que não querem se calar são: Quantos dos meninos que estão na rua hoje não estariam salvos pelo esporte? Quantos dos meninos entregues ao tráfico de drogas não estariam salvos pelos clubes esportivos?

E tem mais. Por influência de amigos, assim como aconteceu na minha ápoca, muitos teriam contato com profissões ligadas ao esporte e, assim, um norte a seguir, um espelho e um caminho a ser trilhado. Isso sem falar nas amizades, pois os desafios enfrentados dentro de uma quadra, de um campo, de um tatame, de uma piscina, são compartilhados pelos que ali estão e isso jamais é esquecido, a ponto de solidificar grandes amizades.

Volto nesse assunto já já, pois pretendo contar aqui experiências dos que experimentaram a época áurea e a derrocada do esporte em BH. De quem lutou pelo esporte e de quem ajudou a derrubá-lo.

Esportes

Ivan Drummond

Jornalista, cronista esportivo e cobriu as sete últimas edições dos jogos olímpicos