Uma mentira chamada Meirelles
Por José Antônio Bicalho
O ministro da Fazenda Henrique Meirelles quer ser presidente da República. Isso não é segredo nem novidade. Quando Meirelles desconversa sobre sua possível candidatura, na verdade a reafirma. E ele sabe que nunca houve, como provavelmente nunca mais haverá, ambiente tão propício à realização de sua ambição como o atual.
A crise econômica abre espaço para o técnico de larga experiência. E a crise política favorece seu perfil de novidade, ainda não contaminado pela velha política e suas práticas e conluios. Sim, Meirelles é candidatíssimo e, em 2018, será apresentado como o homem capaz de vencer o caos. Só que existe um problema: Meirelles é uma mentira.
Ao contrário do que ele próprio insiste em dizer, a crise econômica não terminou, mas apenas entrou em nova dinâmica, passando de depressão para estagnação. E ele, Meirelles, é o contrário do que se vende. Ao invés de ser o “homem que venceu a crise”, ele é, na verdade, o “homem que perpetua a crise”.
Não existe explicação plausível para os três anos de depressão (que para alguns economistas são quatro anos), senão o erro da guinada ortodoxa empreendida por Dilma Rousseff em seu último ano como presidenta (quando colocou o ultra-conservador Joaquim Levy na Fazenda) e continuada por Meirelles (tão conservador quanto Levy). Foram eles que transformaram o soluço econômico de 2014 na crise sistêmica que se arrasta até hoje. Mas vamos aos números para não parecer implicância.
Não sei se vocês se lembram, mas Meirelles foi colocado por Temer na Fazenda para promover o ajuste fiscal, ou seja, trazer as despesas de volta ao nível das receitas e reduzir o déficit primário. Pois, no acumulado do ano até setembro (ultimo dado disponível), o déficit foi de 108,5 bilhões, crescimento de 7,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, o que equivale a 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Já no acumulado de 12 meses até setembro, o déficit primário é de R$ 169,9 bilhões, equivalente a 2,6% do PIB. Ou seja, em setembro o déficit estava R$ 11 bilhões acima da meta para este ano (ampliada por duas vezes na atual gestão, é bom lembrar), que é de inaceitáveis R$ 159 bilhões. Caros, sinto informar, mas não existe tempo para o governo colocar o déficit dentro da meta, a não ser por malandragens como a venda açodada de ativos estatais ou os leilões improvisados de concessões, coisa que já está em marcha e vem se acelerando.
Então, é isso. Para mascarar os resultados calamitosos e a incompetência para reversão da crise e do déficit, Meirelles e sua turma queimarão patrimônio público. Privatizações, se é que haja justificativa para tal, deveriam ter seus resultados obrigatoriamente destinados para investimentos, promoção do crescimento e melhoria da infraestrutura do país. Mas, neste governo Temer, o dinheiro da venda de ativos será gasto para cobrir o rombo das contas do governo central. Um desperdício, para não dizer um crime.
Gravíssima também é a evolução da dívida pública federal, que em setembro chegou a R$ 3,312 trilhões. Foram incorporados ao estoque da dívida novos R$ 279 bilhões em 12 meses até setembro, um crescimento absurdo de 9,9%. A dívida cresce justamente por conta da necessidade de financiamento do déficit primário.
Também o dinheiro que o governo embolsa ao fazer dívida deveria ser direcionado para investimentos, promoção do crescimento e melhoria da infraestrutura. Mas não para Meirelles. O dinheiro da venda dos títulos públicos está sendo queimado igualmente para tapar o buraco nas contas que sua incompetência criou.
E Meirelles, o homem do déficit e da crise, o homem das reformas e das privatizações, quer ser presidente. Pois que queira.
Economia
José Antônio Bicalho
Jornalista especializado em economia e editor de O Beltrano