"Não tem nada demais"

Ao visitar o Palácio das Artes na tarde desta segunda-feira, o prefeito saiu em defesa da mostra de Pedro Moraleida, dizendo que "quem quer trazer o filho de seis anos aqui, que venha e traga".


por Lucas Simões 

 

Kalil visita exposição de Pedro Moraleida. Fotos: Adão de Souza/PBH

O prefeito Alexandre Kalil (PHS) entrou na polêmica da vez, ao se posicionar contrariamente às tentativas de censura às artes em Belo Horizonte. Ele esteve no Palácio das Artes no fim da tarde desta segunda-feira (09/10), em visita à polêmica exposição de Pedro Moraleida, “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, acusada por vereadores evangélicos de pornográfica, de atacar símbolos cristãos e de fazer apologia à pedofilia e zoofilia. Kalil chegou às 16h30 e, depois de uma volta de 15 minutos na Galeria Alberto da Veiga Guignard, foi categórico ao afirmar que a exposição “não tem nada demais”.

“Sinceramente, o que eu vi aí dentro, em pleno século XXI, não tem nada demais. Até porque se tivesse, não teria problema nenhum. Porque nós não podemos voltar aos anos de 1700, para o Iluminismo, para Voltaire”, disse Kalil. Ele ainda reforçou que a exposição de Pedro Moraleida, artista falecido precocemente em 1999, aos 22 anos, não apresenta nada que justifique as acusações de apologia à pedofilia, podendo, inclusive, ser visitada por crianças.

“Quem quer trazer o filho de seis anos aqui, que venha e o traga. Quem quer trazer o de dez, que o traga”, completou Kalil. O prefeito também reforçou que é favorável às políticas que tratam da diversidade, ao referir-se a si na terceira pessoa e dizer que “vai em cultos evangélicos quando convidado, mesmo não sendo evangélico, e também abre a Parada LGBT da cidade”.

Kalil visita exposição de Pedro Moraleida. Fotos: Adão de Souza/PBH

Manifestação

No início da noite, algumas centenas de pessoas fizeram manifestação na porta do Palácio das Artes em apoio à exposição de Pedro Moraleida e de repúdio às tentativas de censura. O secretário de Cultura do Município, Juca Ferreira, fez um discurso duro contra os ataques às artes, e incitou o público a gritar “não passarão”. Também discursaram o secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, e o pai de Moraleida, Luiz Bernardes.

Polêmica

Apesar das declarações e do tom progressista, o prefeito está envolvido em uma recente polêmica relacionada às questões de gênero. No dia 22 de setembro, por meio do decreto 16.717, ele suprimiu a menção à palavra “gênero” do escopo de trabalho da Secretaria Municipal de Educação. A antes denominada Diretoria de Educação Inclusiva e Diversidade Étnico-Racial passou a se chamar Diretoria de Diversidade Étnico-Racial.

Pouco mais de uma semana após o decreto do Executivo, o vereador Jair Di Gregório (PP) disse que Kalil “gentilmente nos ouviu e tirou suas próprias conclusões (sobre a questão de gênero nas escolas). O prefeito Kalil desfilou no trio elétrico na parada gay, mas ele mesmo já declarou que é contra a ideologia de gênero”, disse Jair, em discurso no Plenário da Câmara, no dia 3 de outubro.

Questionado pela reportagem se o decreto do Executivo poderia ter incentivado as tentativas de censura contra as artes por parte da bancada cristã, criada para barrar todas as questões de gênero em discussão na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o prefeito se irritou. “Não tem essa de bancada cristã, vamos parar com isso. A Secretaria Municipal de Educação tem um conselho de educação para tomar conta da escola. Isso aqui é galeria de arte, aqui ninguém toma conta. Na escola não é assim. É uma estupidez falar isso”, respondeu Kalil.

No último dia 5 de outubro, um grupo de vereadores de esquerda denunciou o prefeito à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, cobrando a revogação do decreto 16.717. Kalil será intimido a prestar esclarecimentos ao órgão internacional ainda neste ano.