O vazio político de Minas
Por João Gualberto Jr.

Um marqueteiro experiente me disse na semana passada que o páreo sucessório para o governo de Minas está “na estaca zero”. Em condições normais de temperatura e pressão, a pouco mais de um ano do período eleitoral, era para a disputa estar praticamente desenhada. Mas, por conta da convulsão nos sistemas político, partidário e eleitoral do país, quem não está nas barras da justiça, por enquanto, prefere só assistir pela janela à banda passar.
Minas Gerais é um caso à parte nessa confusão em razão do ocaso de Aécio Neves. O que o senador conseguirá preservar de seu capital político para o ano que vem? Como foi publicado aqui em O Beltrano na semana passada, o comprometimento severo do personagem que deu as cartas nas últimas seis eleições mineiras estaduais e municipais, e em torno do qual gravitava uma miríade de bandeiras e recursos, jogou uma nuvem de orfandade no campo majoritário da política regional. Como ficarão em 2018?
Há, agora, entre PSDB e aliados, uma percepção de falta de rumo completo. Alguns líderes já trabalham por descartar o ex-governador, virar a página e se agarrar em alguma tábua à deriva. Mas Aécio não seria grande demais para ser descartado? Pesado demais para ser virado como página?
Daí ser apenas parcialmente correta a leitura de “estaca zero” para a sucessão estadual. Hoje, há dois pré-candidatos definidos. Um é o governador Fernando Pimentel (PT), opção natural para a reeleição. Mas o petista vive situação delicada, de mãos e pés atados. Na Justiça, o governador responde a inquérito por corrupção eleitoral, tendo sido indiciado pela Polícia Federal, e pode ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) sem a necessidade do crivo da Assembleia Legislativa de Minas. Para piorar, com o estado em situação deficitária, o programa de governo eleito em 2014 dificilmente se viabiliza. Imaginemos como estará Pimentel, em campanha no ano que vem, tendo que justificar as acusações advindas das operações Lava Jato e Acrônimo e explicar por que o estado deverá acertar suas contas apenas em 2020. Tarefa árdua.
O outro pré-candidato é Marcio Lacerda (PSB), para quem a estrada se mostra bem mais convidativa. O ex-prefeito de Belo Horizonte tem como maior desafio se mostrar e se tornar conhecido no interior. E já vem cuidando disso sem peias: passa de dois a três dias da semana visitando alguma cidade-polo. Os convites partem de empresários, cooperativas de produtores rurais e prefeitos, que, em razão da queda de receita e da “distância” política e fiscal assumida pelo Palácio da Liberdade, buscam saídas, alternativas, conselhos para superar a crise. E esses prefeitos, que estão ouvindo Lacerda sobre gestão pública, são dos mais diversos partidos.
O ex-prefeito de BH aposta em três vantagens que o momento de caos político acabou por conferir-lhe. A primeira é justamente a situação complicada do ex-padrinho Fernando Pimentel, cuja vidraça é eleitoralmente muito sensível, de fato. A segunda, o campo órfão deixado por seu outro ex-padrinho. Lacerda entende ser ele a opção natural dos grupos que eram associados historicamente a Aécio, tanto político quanto empresarial. Por fim, como o sistema partidário está se liquefazendo no olho da crise moral, o perfil de gestor sério técnico seria a terceira vantagem dele.
Agora, a construção da imagem ideal requer ainda vários retoques, como demonstrar maior sensibilidade para as áreas social e cultural, por exemplo, em cujos meios Lacerda não é lembrado necessariamente de forma carinhosa. Além disso, sendo ex-prefeito e candidato ao governo, como não parecer um carreirista numa era em que são incensados os não-políticos? (Isso existe em eleição?)
Nesse pré-quadro eleitoral, duas dúvidas restam. Uma, o “grande aliado” PMDB, do vice-governador Toninho Andrade, vai para que lado? Vai ficar no barco do governo atual até o fim ou vai pular fora na hora que a maré virar contra o governador?
E, duas, como o momento é propício para os “outsiders” da política, alguém mais alternativo do que Lacerda pode pintar. Não se pode desconsiderar que a mosca azul venha a picar dois mineiros de grande notoriedade. Um está semi-aposentado e se chama Joaquim; o outro fica até setembro no mandato do cargo que ocupa, e seu nome é Rodrigo.
Política
João Gualberto Jr.
Jornalista, economista e cientista político.