Quero lançar um grito desumano/ Que é uma maneira de ser escutado


Por Rafael Mendonça


Uma coluna. Uma coluna semanal… me traz o sentimento de responsabilidade, de tentar trazer até vocês toda semana ou em edições extraordinárias as coisas que a gente quer contar aqui sobre o mundo da “cultura”. É um marco e um empurrão. É encarar muita conversa importante, é contar histórias verdadeiras e mentirosas. Imprima-se a lenda! É tentar manter as nossas raízes e histórias. É contar coisas boas e proveitosas.

E o que eu queria contar, até para aproveitar que o assunto está quentinho, é sobre minha ida e o que aconteceu em São Paulo de 7 a 11 de dezembro de 2016, no Centro Cultural São Paulo (CCSP).

Ali aconteceu a quarta edição do SIM SP (Semana Internacional de Música de São Paulo) que reúne profissionais de todas as áreas da música. Uma multidão de pessoas sedentas e aficionadas por informações, negócios e oportunidades. Imaginem umas, sei lá, mil e quinhentas ou duas mil pessoas de todas as áreas de atuação, de músicos a mega empresários, de roadies e técnicos a curadores de festivais, todos em busca de algo.

E elas estavam alí pra quem quisesse. Era só puxar assunto com a pessoa que estivesse almoçando/ sentada/andando do seu lado que na pior das hipóteses era alguém bacana para trocar uma ideia e tinha algo legal pra te mostrar.

Tirando shows e mais shows e mais shows. Foram quase 30 shows espalhados em três dias no CCSP. Tirando mais um sem número de atrações espalhadas por casas noturnas da cidade. E tinha coisa boa, coisa ruim, tinha grande variedade.

Os seminários foram outra grande virtude da coisa. Aconteceram encontros excelentes como o que discutiu crítica musical. Ou com bons casos e boas reflexões como a que discutiu turnês internacionais.

Mas o grande destaque, para mim, foi a discussão sobre trans e música envolvendo Jaloo, Lineker, Liniker (Liniker e os Caramelows), MC Linn da Quebrada, Raquel Virgínia e Assucena Assucena (As Bahias e a Cozinha Mineira) com a mediação da Djamila Ribeiro. Vou mudar de parágrafo para tentar explicar.

Sempre tive consciência da importância da discussão e das atitudes grandiosas delas. Mas, chato para música, torcia um pouco o nariz para o som em si. Mas ao ver as meninas fiquei encantado com tanta sabedoria e força. Não apenas elas têm completa noção de seu importante e imprescindível papel no Brasil de 2016 como sabem passar isso para a frente com toda a tranquilidade de um sábio budista. A Assucena e a Raquel são pessoas que se equivalem aos maiores nomes da nossa história e seu papel para o país ainda vai ser muito discutido e comprovado.

A cidade ainda me reservou a grata surpresa de ver um show do Rakta, da Juliana Perdigão e do Passo Torto com a Ná Ozzetti. Cada um a seu modo me arrebatou. A Juliana já conheço de outros carnavais e com esse show, do jeito redondo dele, está muito pronto para voar. A apresentação aconteceu no “lounge” da Bienal e ainda contou com uma catártica participação do mestre José Celso Martinez.

Situação semelhante ao do Passo Torto com o qual eu já tinha intimidade, mas nesse caso ainda não havia visto o show com a Ná. E que poder ela tem. Não é que ela cante bem. Ela canta do jeito dela, além de bem, e isso a torna uma das mais singulares cantoras da música brasileira, sem falar de toda sua trajetória com o “Grupo Rumo” e em sua carreira solo. Os rapazes fazem um som inclassificável. São sambas com riffs de punk. Baixo acústico com ruídos e logo em seguida melodia. Um confluência de sons e sensações que te levam do céu ao inferno, mas isso tudo bom.

O Rakta é uma outra história, banda de post punk, punk, noise, sei lá o que, tudo isso misturado e junto ao mesmo tempo. Já conhecia o som, mas ao vivo é uma verdadeira cerimônia. As meninas entorpecem nossa cabeça e transformam os 45, 50 minutos de show em uma experiência única. E revolucionária. Sim, sai com a sensação de ver uma coisa que iremos falar daqui ou por muito tempo.

Semana que vem conto a história da Bienal sem nomes.

Cultura e outras coisas

Rafael Mendonça

Rafael Mendonça é jornalista,editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.