Pelas diretas e contra as privatizações

O senador Roberto Requião (PMDB/PR) lançou ontem, em BH, a frente mista de congressista contra a venda de estatais e o desmonte das políticas sociais


por Lucas Simões
O senador Roberto Requião em entrevista, ontem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais
O senador Roberto Requião (PMDB-PR), o mais ferrenho opositor do presidente Michel Temer dentro de seu próprio partido, lançou nacionalmente ontem (28/08), em Belo Horizonte, a Frente Mista em Defesa da Soberania Nacional, contraria às privatizações e ao desmonte dos projetos sociais. Trata-se de uma frente suprapartidária que percorrerá o país para defender eleições diretas para presidente, enquanto tentará retardar no Congresso projetos de venda de estatais e cortes sociais.
 
A Frente Mista foi lançada em solenidade na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), aproveitando a inauguração do novo Auditório José Alencar Gomes da Silva, instalado no térreo do Palácio da Inconfidência para receber audiências de movimentos sociais. Além de Roberto Requião como presidente, a frente conta com os deputados Patrus Ananias (PT-MG) e Glauber Braga (PSOL-RJ) como secretários gerais, e é integrada por outros 201 deputados e 18 senadores.
 
O movimento tenta conter o maior projeto de privatização no país depois da era FHC, há 20 anos. O programa de Temer envolve a privatização de 57 empresas estatais, incluindo a Casa da Moeda, a Eletrobras e o Aeroporto de Congonhas. Na tangente dessa política, a extinção da Renca (Reserva Nacional de Cobre e Seus Associados), uma área entre o Pará e o Amapá do tamanho do Espírito Santo (cerca de 46.450 km²), com altíssima concentração de ouro e outros metais preciosos, mas habitada por indígenas. A extinção da Renca permitirá a operação de mineradoras na região.
 
Roberto Requião admite que a Frente Mista tem poucas chances de barrar todas as reformas e privatizações via Congresso, onde Temer mantém maioria. “No Congresso é muito complicado, apesar de eu achar que a (reforma) da Previdência não passa. O Brasil precisa de um plebiscito referendário para escolher um novo presidente. O plebiscito está proposto, mas ele tem que partir dos movimentos sociais e das ruas. Por isso, é importante o diálogo com as pessoas”, disse o senador paranaense.
 
Ainda assim, o deputado federal Patrus Ananias diz que a Frente Mista também vai trabalhar em análises jurídicas para retardar ou barrar as medidas de Michel Temer, como a extinção da Renca por decreto presidencial.  “O sistema jurídico é muito complexo, mas temos que trabalhar nele também. Eu entendo que a venda da reserva da Amazônia, como advogado e professor de direito, que é uma matéria que deve ser apreciada pelo Congresso, ir à votação. Mesmo não tendo maioria na casa, é um tempo que ganhamos para mobilizar a sociedade, como estamos mobilizando contra a Reforma da Previdência”, disse Patrus.
 
Apesar das estratégias, Requião nega que a Frente Mista tenha a intenção de projetar uma candidatura presidencial para as eleições de 2018. “A alternativa é um programa para o Brasil. Nós não estamos procurando um mecenas, um líder carismático. Nós queremos um programa que defenda o trabalhador brasileiro e o capital produtivo nacional, a indústria nacional”, disse Requião.
 
Nesse sentido, Patrus salientou que, para além do alinhamento com movimentos sociais, universidades, escolas de formação básica e igrejas, a Frente Mista vai procurar apoio do empresariado. “Nós entendemos o papel da iniciativa privada, queremos estimular os empreendedores do Brasil, respeitamos a livre iniciativa e a economia de mercado. Queremos formar empreendedores regionais com uma nova sensibilidade social e ambiental. Mas o setor privador visa o lucro. Então, nós precisamos da presença do Estado para gerir bens e serviços essenciais às pessoas. O setor elétrico, por exemplo, a questão da Cemig e Eletrobras, não dá para privatizar. É fundamental até para promover o desenvolvimento e para assegurar o bem estar das pessoas”, disse Patrus.
 
PMDB
Apesar dos pedidos de expulsão de Roberto Requião do PMDB por parte da juventude pemedebista, além de atritos com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o paranaense disse que não há possibilidade de deixar o partido e atacou os críticos. “Quem tem que deixar o PMDB é quem adota o liberalismo econômico, o que não é o fundamento do PMDB”, rebateu.