Só ficou no muro tristeza e tinta fresca


Por Silvana Mascagna

O Carnaval nem chegou e o prefeito da maior cidade da América Latina já se fantasiou de gari e operador de motocompressor. Mas se vestir de prefeito que é bom…

Mais fácil é fazer da seu função um reality show de quinta categoria. Disso, ele entende! E sair a “limpar” as ruas e os muros de São Paulo, como se esse fosse o grande, o único, problema da metrópole. De uniforme de gari e munido de vassoura, ou de óculos de proteção, máscara e avental, ele está mais para político da velha guarda do que para “o grande gestor”, como gosta de se apresentar!

“Cidade Linda” é nome do programa da “zeladoria” de Dória! E, se para a varrição de rua, contou com o auxílio luxuoso da atriz e tucana histórica Regina Duarte, para a limpeza dos muros, quer a “colaboração” dos moradores de São Paulo. “Filmem, fotografem e denunciem pichadores”, pede o empresário, que, até ser colocado contra a parede por um jornalista durante a campanha, utilizava como seu um terreno público em Campos do Jordão.“O Dória falar essas coisas só alimenta mais nossa vontade de subir pelas paredes”, disse um pichador. E se tem uma coisa que essa turma do pixo entende é de resistência!

E, para o homem que quer “tolerância zero para os pichadores”, já mandaram um recadinho estampado num dos prédios do centrão: “Dória, pixo é arte”.

Mas o político (ops), gestor, que declarou ter R$ 33,9 milhões em obras de arte, incluindo gravuras, pinturas, esculturas e fotografias, continua com sua missão. Salpicou seus sapatos Osklen de tinta ao pintar de cinza pichações de uma mureta da avenida 23 de Maio.

Seu sonho é criar um “grafitódromo”, de preferência num lugar bem afastado da cidade, tal qual “um bairro de Miami”.

Mas alguém acredita que das mãos do grande admirador de Romero Brito sairá algo similar a Wynwood, um bairro decadente que se transformou numa grande galeria a céu aberto reunindo os maiores grafiteiros de todo o mundo?

Difícil de acreditar. De qualquer forma, lá em Pinheiros, alguém já mandou avisar ao prefeito: “Não dê vexame, São Paulo não é Miami”.

Crônicas

Silvana Mascagna

Jornalista paulista, que escolheu Belo Horizonte há 20 anos para viver