Um novo tempo, apesar dos perigos
Por Rafael Mendonça

Enquanto um grupo vai cada vez mais para o outro lado, eu ando me afundando mais e mais no popular, e como sempre em busca do novo. São muitas coisas acontecendo, muita gente aparecendo e dizendo pra onde vai. São novidades em quase todos os estilos musicais e cada um defendendo o seu. Acredito que muitos desses nem saibam direito a importância de seu som para o futuro. Alguns talvez nem cheguem a esse futuro na memória das pessoas. Mas impossível contestar que passos à frente estão sendo dados.
E falarei também de coisas que nem sou lá muito fã. Mas entendo seu lugar no mundo. Muito poderão questionar este texto. A democracia é linda.

A moça Marília Mendonça (não é parente) esbanja autoconfiança no seu (sei lá se dá pra chamar isso de) sertanejo. Valorizando as mulheres e tal. É uma revolução acontecendo. Junto dela vem Simaria e Simone e outras com um discurso que leva a música sertaneja a outro patamar. Em quase 100 anos de história do sertanejo, quando foi que você ouviu alguém dizer para uma moça algo como “Larga esse babaca que só te faz mal e vai viver sua vida”. E essas moças mandam isso em quase toda sua obra.

Simaria e Simone tem uma música chamada Loka, que deveria ser hino das mulheres do Brasil. Nego do Borel tem outra, “Você partiu meu coração”, que é fera. As duas com a participação da Anitta, outra moça que traça um caminho curioso e particular.
Daria para falar de muita gente. O Baiana System, por exemplo, que mesmo com um ou outro problema, junto com o Igor Kannario e outros, ajudou a impulsionar a revolução popular do carnaval da Bahia.
O GG Albuquerque vem mandando em suas matérias seguidas aulas sobre o funk. Fala dos meninos do ambient space funk de BH, dos malucos dos 150 BPM… As letras são ainda bem fracas em sua maioria, machistas e misóginas, o que não é exclusividade do funk. Mas poxa, quando você era jovenzinho, se era uma pessoa normal, também só pensava em putaria. Mas faz parte de uma cultura do proibidão muito importante, enraizada nas periferias. Mas musicalmente é coisa de outro mundo.

Antonio Antmaper, mundialmente conhecido como Omulu, vem fazendo seus arrastões pelo Brasil afora. E além de papo bom e boa praça toda vida, dá uma torcida no funk que quase deixa de ser funk.
Tem pensamento e tem preconceito contra? Tem. E vai ter sempre, e muito. Como também foi assim em trocentos casos da música brasileira. Samba, tropicália, etc etc etc.
O que essa turma toda tem em comum, além de fazer um baita sucesso? Estão fazendo a música brasileira andar para frente, sair do marasmo e das enfadonhas “releituras” e retornos mágicos que andaram permeando a coisa toda.

Fora do mainstream, tem muita gente fazendo e acontecendo também. A turma de São Paulo, os experimentais do Rio, alguns já morando em SP. Aqui em BH mesmo, Matéria Prima, Barulhista, Posse Cutz (vários do coletivo, que nem sei se é coletivo), Garrel, os malucos do funk, alguns da turma do hip hop, Rossano, Kristoff, Geração Perdida. as festas loucas do Master Plano e do 101Ø e mais uma turminha aí.
São uns que estão em busca de algo e não essa releitura modorrenta que soa como um trem que já foi escutado um milhão e meio de vezes. Longe de mim querer criticar quem gosta, cada um com seus problemas. Mas a minha vida inteira que gastei com isso me obriga a querer mais quando vou ao encontro de um som novo.

Muitos dizem que a música vive um mau momento. Não poderia discordar mais. Quem vive um mau momento é o mainstream acomodado e deitado em berço esplêndido. E não é de hoje. São sub cópias de cópias de coisas que nem eram tão legais assim, e algumas até legais que a título de reinvenção/releitura não fazem nada de novo ou “revolucionário”, nem dizem ao que vieram. Cumprem seu papel dentro do mercadão e pt saudações. Diferente dessa turma ai em cima que, talvez mesmo sem saber, estão fazendo a coisa ir. Em contraponto, tem um bocado de gente fazendo um som nervoso, renovador e que te tira do lugar.
Cultura e outras coisas
Rafael Mendonça
Jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.